sábado, 21 de novembro de 2009

Sétimo andar

Há algo de estranho,

Sim, há algo de estranho!

Virar a cabeça e não conseguir ver nada

Aguçar o ouvido e não ouvir patavina.


Os sentidos embriagados por barbitúricos e álcool,

Álcool e mais barbitúricos,

Há algo de estranho quando tenta se aliviar com cortes

Navalha afiada, pele desfiada.


Há alivio na dor do profundo?

Os sentidos desaparecem,

A brasa do cigarro já queimou a face

Relance de uma cicatriz, marca ao mundo.


Há algo de estranho,

Não, não há, ou há?

Álcool, mais álcool, mais cortes

Mais cicatrizes futuras.


Defunto ainda vivo com urubus ao ar,

A foto do porta-retrato rasgada,

A janela escancarada do sétimo andar

Ninguém para telefonar.


Sim, algo perece junto aos sentidos,

Não se ouve, vê, sente, degusta ou cheira

Só a cor do sangue pisado, coagulado

Dos cortes e das queimaduras.


Ninguém para lhe ouvir, tudo quieto,

Os gatos com comida para meses

E as reses vão para o abate, sem sentir

Há algo de estranho em que se joga do sétimo andar?



Cristiano Melo, 21 de Novembro de 2009.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Encontro

Um frio na barriga aponta a ansiedade

A saudade de conversar e te olhar

Não afugenta o medo da impotência

De te ter uns minutos ao meu lado, na minha frente


O tempo passa lento nessas horas

Esperar não é pra todos algo sem importância

A ânsia come pelos pés, e tu não chegas

Ao contar dos segundos, pra te ver defronte.


Um remédio poderia ajudar, respirar, meditar...

Mas o Tempo, os segundos, o tempo, tic tac

Cada martelada no meu estar ali sentado

Tomando café enquanto não chegas.


O atraso já passa dos sete segundos

Ao badalar dos sete minutos irei embora

Não vens neste tempo de angústia

Vou-me com a boca do estômago a doer.


Não, não sou ansioso, as pessoas que atrasam

O tempo amarga o fel de ser

E o meu relógio interno é bruto

Vou pra luta de luto, adeus!



Cristiano Melo, 17 de Novembro de 2009.

sábado, 14 de novembro de 2009

Ser e Existir

O eu de meu ser

É o mim de mim

Ou o eu de eu?


Ser o meu eu

É ser mim mesmo?


Se o meu eu é o mim

Mim ser eu

Eu ser mim...


Eu é mim

Mim é eu

Verbo ser que identifica!


Quem sou eu além de mim mesmo?!


Existir...

Sim, existo em relação

Só posso ser eu com o ti.


Sou eu contigo

Não existo sem ti

Tu não existe sem mim...


Verbo existir que identifica!

Tu existe em mim

Eu existo em ti.


Quem existe em ti além de mim?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Já é tarde

Lembre-me mais tarde

De que o Sol já se pôs.


Lembre-me mais tarde

De que o agora já foi.


Lembre-me mais tarde

De que não me amas mais.


Lembre-me mais tarde

De que já não sou jovem.


Lembre-me mais tarde

Só mais tarde.

De que a tarde já é tarde.


Cristiano Melo, 07 de Novembro de 2009.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Border

Arquear a brasa acesa do cigarro

Pendente ao calo que murcha.

Espancar a parede, simulacro de tua cara

Ausente no presente, presente no passado.


Estacar farpas embaixo da unha

Conspira a dor de tua alcunha.

Esfolar a pele, pedaço por pedaço,

Da pira ardente do poço demente.


Não chega a apontar caminho...

Sim, talvez possa

Não, não pode!

Caminhos, bem-vindos, são quimeras.


A era de ser compreendido

Joga a pura certa certeza, fodido!

Olhos trocados na dupla visão

Ao cerco fechado a mão.



Cristiano Melo, 30 de Outubro de 2009.

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